A partir de uma definição ampla de Estética, sinestesia visual, auditiva, sonora e tátil, serão abordados aqui temas ligados, sobretudo, às manifestações religiosas, míticas e artísticas. Imagens, metáforas, poéticas, como ilustrações e reflexos humanos no mundo e no Outro Mundo, também conhecido como Elphame.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Libertem a mulher forte: o amor da mãe abençoada pela alma selvagem




Comprei hoje! =D



Primeiro livro inédito da psicanalista Clarissa Pinkola Estés em mais de uma década, Libertem a mulher forte é uma prece à Virgem Maria, e um convite ao reencontro com a figura divina, numa bela homenagem à santa mãe. No livro, a autora do clássico longseller Mulheres que correm com os lobos compartilha com o leitor sua devoção pela mãe de Jesus, num livro perfeito para quem busca sentimentos reconfortantes.

Conhecida por diversos nomes, de Madona a Nossa Senhora de Guadalupe, de Nossa Senhora a Holy Mother , Clarissa Pinkola Estés convida o leitor a descobrir a natureza verdadeira e selvagem de Nossa Senhora, sua força e compaixão. Poético e inspirador, o livro reúne orações, poesia, benção e ensinamentos em forma de histórias.
Libertem a mulher forte é especialmente um livro de devoção. Desde muito pequena, a autora já cultivava uma admiração especial pela mãe de Jesus Cristo. E sempre adorou a segurança da fé, sempre se sentiu abençoada por ela. Dos tempos de colégio, guarda lembranças dos momentos de intensa oração e devoção.

Em meio às histórias, Clarissa Pinkola Estés encoraja os leitores a descobrirem a natureza de Nossa Senhora, nem sempre calma e submissa como costuma ser descrita em livros e histórias. Nas palavras da autora, Nossa Senhora comunica-se apenas quando necessário, permanecendo quieta quando esta é a decisão mais apropriada.

A autora afirma que Nossa Senhora está sempre junto a todos, nos momentos em que estiverem realmente precisando. “Desde que haja compaixão, todos a encontrarão, em alguma de suas muitas formas, em alguma de suas muitas vozes”, descreve.Libertem a mulher forte é um livro poético e inspirador, um convite para encarar a força do amor imaculado da Virgem Maria.

Fonte:http://www.rocco.com.br/shopping/ExibirLivro1.asp?Livro_ID=978-85-325-2772-1


A estética do movimento - Parte II



Os sentidos dos vivos e dos deuses

O clássico da Antropologia das Religiões, O Ramo de Ouro, de James Frazer remete-se profusamente à relação intrínseca entre o humano e o mundo da natureza. Assim, como Frazer, também Guinzburg em seu estudo sobre os benandanti, observou o mundo de metáforas e imagens poéticas fundamentais para ilustrar este universo fantástico dos ciclos sazonais. Estes ritos agrários/fúnebres não eram meramente repetidos mecanicamente, toda uma encenação e construção imagética e estética era imprescindível ao bom andamento mágico e devia ser recriada a cada novo evento. Há toda uma estética que remete ao movimento próprio à natureza, que mesmo repetindo é sempre inédita. Começa assim Frazer no capítulo dedicado ao mito do Rei Imolado, Adônis:

“ O espetáculo das grandes mudanças por que passa anualmente a face da terra impressionou profundamente a mente dos homens, em todos os tempos, e os levou a meditar sobre as causas de tão vastas e maravilhosas transformações. Sua curiosidade não era totalmente desinteressada, pois nem mesmo o selvagem  pode deixar de perceber quão íntima é a relação de sua própria vida com a vida da natureza, e como os mesmos processos que congelam o regato e despem a terra da vegetação ameaçam-no de extinção. Num certo estágio de seu desenvolvimento, os homens parecem ter imaginado que estavam em suas mãos os meios de evitar a calamidade potencial e que podiam apressar ou retardar a marcha das estações pela arte da magia. Assim sendo, realizaram cerimônias e recitaram fórmulas mágicas para fazer a chuva cair, o sol brilhar, os animais se multiplicarem e os frutos da terra crescerem” (p. 122)

Que fórmulas mágicas eram essas senão poesia? A poesia é a linguagem dos magos, dos filhos da Musa, como afirma Robert Graves em A Deusa Branca. E as cerimônias são a encenação das sensações, das sinestesias advindas da vida na natureza. A mimeses, o ato de imitar como forma de comunicação mágica, justifica a máscara ritual, os chifres. Justifica a imolação do Rei para regar os campos com seu sangue, assim como no mito de Adônis, de Osisris ou de Átis. O Rei é mimeticamente a semente do carvalho, que cai na terra, apodrece, morre, dela renascendo.

Filme O Homem de Palha.

A poética das encenações rituais pagãs aparece nos hinos e cantos, como no do deus babilônico Tamuz, comparado às plantas que murcham rapidamente (FRAZER, p. 123):

“A tamarga que, no pomar, água não bebeu,
cuja copa nos campos não deitou flores,
o salgueiro que, à margem do regato, não se regozija
e cujas raízes foram arrancadas,
a erva que no jardim água não bebeu”.

A morte de Tamuz parece ter sido chorada anualmente ao som de flautas no solstício de verão. Parece que as “nênias” eram cantadas junto a uma efígie do deus morto, lavada com água pura, ungida com óleo e vestida de vermelho. Segundo Frazer, incenso era queimado como para estimular os sentidos adormecidos do deus com seu odor pungente e despertá-lo do sono da morte.

Continua...

Referências desta parte
FRAZER, James George. O ramo de ouro. Edição de Mary Douglas. Resumo e ilustração de Sabine MacCormack. São Paulo: Círculo do Livro, 1982.
GINZBURG, Carlo. Os andarilhos do bem: feitiçarias e cultos agrários nos séculos XVI e XVII. Trad. Jônas Batista Neto. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
GRAVES, Robert. A Deusa Branca: uma gramática histórica do mito poético. Trad.: Bento de Lima. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

Sugestão de leitura:
Portugueses celebram rituais pagãos no Alentejo

A estética do movimento - Parte I



Roda do Ano: que sentido faz?

Por que continuarmos a ritualizar? Por que os pagãos e bruxos modernos, em especial os wiccanos, continuam a seguir a Roda do Ano (ver definição AQUI) que é precisamente a marcação de rituais sazonais? Alguns, bruxos ou não, podem argumentar que essas práticas parecem defasadas já que serviram no passado como uma forma religiosa de regulação dos ciclos de fertilidade da natureza, bem como a influência dos astros nesta fertilidade, nas boas ou más colheitas; e hoje vivemos supostamente independentes desses ciclos. 
A vida “artificial” moderna enganosamente pode conferir essa certeza aos que creem sejam essas práticas rituais retrógradas, mas estes se esquecem que basta um evento fora do previsto para que plantações inteiras possam ser perdidas. Já experimentos controlados no campo agrícola para reproduzir artificialmente as condições de plantio e colheita em ambiente artificial – por exemplo, no deserto, visando povoar outros planetas – mostraram-se um desastre. Ou seja, a força que comanda os ciclos e marés da vida e da morte – eis o que é afinal a fertilidade dos campos em sentido amplo para esses povos – não pode ser reproduzida pelo ser humano. Então, esta questão, fundamental para a bruxaria (moderna ou tradicional) deve ser observada com mais cuidado.
De onde vêm essas crença e prática humanas cuja finalidade última é tentar controlar os ciclos de fertilidade, nem que seja por intermédio da “adulação” aos deuses, ou da conexão e integração às leis da natureza?


A Antropologia, bem como a História das Religiões, já rebuscaram a caminhada do humano primitivo em seus ritos, crenças e práticas ancestrais e mostraram que naqueles tempos, especificamente no humano coletor e nômade, a dependência da natureza era uma condição, um ponto pacífico. A terra, a natureza, o planeta era de fato a mãe que alimentava e acolhia seus filhos durante a vida e depois era seu leito de morte. Essa era a condição simples e fundamental. Pergunto: no que isso de fato mudou? Não plantamos em outro planeta, nem em nenhum outro elemento que não advenha deste; mesmo em laboratório é com água (pelo menos) que se regam as plantas e se hidratam os seres. Continuamos, sem sombra de dúvidas, deste planeta, absolutamente dependentes. Portanto, o rito da Roda do Ano e suas outras denominações, conserva plenamente sua razão de ser.


As marés e os ciclos: a estética do movimento

Para além do sentido material, as marés e os ciclos da natureza têm importância metafórica e espiritual tão ou mais importante, pois espelham a própria condição humana. Indubitavelmente há o sentido psicológico das conexões sazonais, mas quero falar do aspecto estético/poético dessas práticas.

Continua...